O homem e o mundo natural, livro do consagrado historiador galês Keith Thomas, é um portal para uma importante compreensão sobre o nosso lugar humano no mundo natural. No livro, Thomas nos apresenta dados relevantes sobre mudanças de atitude da espécie humana, entre os séculos XVI à XIX, que alteraram drasticamente nossa relação com plantas e animais.
Depois de ler este livro, há mais de uma década, me abri para ouvir diferentes visões sobre a relação humana com o mundo natural.
Não há uma linha do tempo capaz de mostrar os momentos e eventos que culminaram no afastamento da espécie humana daquilo que uma boa parte das pessoas conhece como natureza. A história da humanidade está cheia de eventos que proporcionaram mudanças radicais sobre a forma de pensar na natureza. Tampouco cabe aqui qualquer generalização, como se todos os humanos vivos da atualidade vivessem relações desconectadas com o mundo natural.
Nessa busca por agregar informações e visões sobre essa longa história da humanidade, tive a alegria de cruzar com O despertar de tudo, obra de David Graeber e David Wengrow, onde os autores nos convidam a pensar sobre uma nova história para a humanidade, não linear, com eventos isolados e que, quando somados, resultam nos diferentes contextos de mundo atual, onde há muitos mundos distintos.
Escrever neste blog é uma forma de colocar ideias em primeira pessoa, sem as camadas de formalidade que a vida acadêmica me trouxeram. Um dos grandes desafios dos últimos 20 anos em meu trabalho tem sido traduzir o que a ciência apresenta, principalmente no ramo da Botânica.
Quando penso que 56% da vida humana habita áreas urbanas na atualidade, e que esse número saltará para 68% até 2050 (ONU-Habitat), tento imaginar como será essa relação entre pessoas e o mundo natural nas próximas décadas.
A Escola de Botânica, escola que fundei com a intenção de aproximar urbanoides de assuntos do mundo vegetal, tem sido um laboratório vivo e potente para compreender verdadeiras lacunas da aprendizagem sobre plantas e natureza, principalmente para a vida adulta. Tomo como referência o livro O despertar de tudo, que tem como intenção mostrar os diferentes mundos humanos, e acredito que apesar da Escola de Botânica ter uma permeabilidade limitada, ela mostra os reflexos de uma parte dessa população desconectada das experiências naturais.
Viver e aprender com o mundo natural foi um convite feito para uma parte do público frequentador da Escola de Botânica, quando ainda na pandemia do covid-19, lancei um curso on-line com este mesmo título, com 4 edições e mais de 200 participantes. Ao longo de quatro encontros virtuais debatemos diferentes assuntos que, naquele contexto de isolamento social, nos colocava em contato com as sensações de pertencer à natureza.
Diante das diferentes atividades propostas, uma delas era refletir sobre perguntas, das quais destaco esta: qual o momento do seu dia em que você se sente parte da natureza?
Por mais que as respostas tenham sido variadas, uma se tornou a mais presente: "quando sinto o vento passar sobre meu corpo enquanto caminho".
Essa resposta me fez pensar por muitos meses. Pensar sobre o quanto as sensações são ferramentas fundamentais para nosso senso de pertencimento. Também me coloquei a pensar sobre os inúmeros caminhos possíveis para aproximar pessoas do mundo natural em áreas urbanas, a partir das sensações e dos sentidos.
Viver e aprender com o mundo natural é um projeto que teve início em 2020 e seguirá por aqui, neste blog e nos diferentes projetos que promovem aproximação entre pessoas e natureza promovidos pela Escola de Botânica. Este artigo marca apenas o início de um conjunto de compartilhamento de ideias, experiências e vivências com o mundo natural.
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